Sócrates, dirigindo-se a um dos seus interlocutores, confessa: "Tem em mente tudo aquilo que é ser parteira e compreenderás facilmente o que quero" (PLATÃO, 2010, p. 200). Tal confissão abriga uma teoria gnosiológica que tem por base a noção de conceito enquanto pensamento capaz de assumir a forma de discurso lógico, daí a comparação entre o conceito e a célula-ovo destinada a fazer o percurso que vai do útero do pensamento à luz do discurso público, contexto no qual a maiêutica — enquanto intenção socrática de partejar conhecimentos — assume sua significação. O desejo implícito nessa intenção é o de que aquilo que vem à luz através da conversação com o interlocutor seja resultante de uma concepção, e não de uma falsa gravidez, ou seja, de uma opinião dogmática. É que, enquanto o conceito é algo que se gesta ativamente, para terminar aparecendo sob a forma de um discurso consistente, que revela a harmonia e a saúde lógica de um indivíduo bem ordenado e consequente, a opinião dogmática é algo inconsistente que, quando aparece sob a forma de discurso, revela a desarmonia e a doença lógica da desordem e da inconsequência. Enquanto forma de conhecimento que privilegia a consistência, a racionalidade científica tem para com o conceitualismo socrático um débito cuja fonte está na lição de que todo pensamento que se pretenda consistente deve poder se manifestar em discurso conforme as leis da lógica.
Referência(s):COSTA, Israel Alexandria. O conceitualismo socrático. Arapiraca, AL: Grupo de Pesquisa Gnosiologia, Ética e Informação / CNPq / Ufal - Projeto Web Filosofia, 2021. Disponível em: https://www.gpgeinfo.org/p/scrtscnct.html. Acesso em: 7 maio 2021.
PLATÃO. Teeteto. Tradução Adriana Manoela Nogueira; Marcelo Boeri. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
Atividade(s):
1)
405/pl/fc_s01