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Paradigmas filosóficos do corpo

A multiplicidade das concepções cristianizadas, modernas e contemporâneas em relação ao corpo se encontra estruturada em, pelo menos, três paradigmas antigos: o platônico, o aristotélico e o diogenesiano. Em um polo estaria o corpo platônico, situado sob a categoria de prisão, pois, com efeito, Platão identifica a condição da alma humana com a do prisioneiro de uma caverna em que se encena o funesto enjaulamento decorrente do sombrio e estranho desejo da psiquê por se banquetear de terra, por se tornar uma espécie de sombra viva. No polo oposto situa-se o paradigma diogenesiano, porquanto, para Diógenes de Sinope, o corpo é um sistema vivo de sinais de uma linguagem filosófica comprometida com o teatro, a dança e a música. Em uma espécie de meio-termo, situa-se o paradigma de Aristóteles, para quem o corpo [humano] é materialização de uma forma, uma realidade tecno-lógica que abriga análises experimentais. Desse modo, a filosofia do corpo pode ser, respectivamente, (i) uma reflexão intelectual sobre o corpo, a qual parece inspirar uma forte corrente da filosofia da cristandade, formada por elos como Agostinho, Pascal e Biran; (ii) uma hermenêutica do corpo pelo próprio corpo, como pretende-se que ocorra em Nietzsche, Merleau-Ponty, Foucault e Artaud; (iii) um experimento científico junto ao corpo, tal como ocorre aos modernos, destacadamente em Hobbes, Descartes, Rousseau e La Mettrie.

Referência(s):
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