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Hermenêuticas filosóficas do corpo

O paradigma do corpo interpretante, instalado por Diógenes de Sinope, deu origem à corrente da hermenêutica corporal, em que o fenômeno da motricidade na qual o próprio corpo se desentranha, quase sem a necessidade de um sujeito que o interpele, produz discursos de valor filosófico. Estariam subsumidas a esse novo paradigma, pelo menos, três hermenêuticas do corpo. A primeira seria a hermenêutica do corpo interpretante, de Nietzsche, para quem o corpo é um autêntico eu filosófico; a segunda, a hermenêutica do corpo próprio, traduzida pela fenomenologia da percepção, de Merleau-Ponty, em que o corpo se desvencilha tanto do rótulo cartesiano de realidade extensa quanto do rótulo biraniano de subjetividade absoluta, para habitar o território da ambiguidade, ou seja, da percepção não subjetiva e nem objetiva. A terceira seria a hermenêutica do corpo dócil, a quem Michel Foucault deu palavras ao farejar os rastros da microfísica do poder, deixados pela história de uma economia política na qual os gritos, as imagens e os sinais do corpo humano em prisões, escolas e hospitais constituem vestígios que instruem a investigação genealógica sobre as origens da motricidade teleológica da disciplina sobre o corpo civilizado.

Referência(s):
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo: ensaio sobre o absurdo. Tradução Mauro Gama. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
COSTA, Israel Alexandria. Hermenêuticas filosóficas do corpo. Arapiraca, AL: Grupo de Pesquisa Gnosiologia, Ética e Informação / CNPq / Ufal - Projeto Web Filosofia, 2021. Disponível em: https://www.gpgeinfo.org/p/cstcrphrmntc.html. Acesso em: 18 abr. 2021.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução Roberto Machado. 14. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Tradução Raquel Ramalhete. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Tradução Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e ninguém. Tradução Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
STAROBINSKI, Jean. As Máscaras da Civilização: ensaios. Tradução Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2001