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O corpo na filosofia da cristandade

Paira sobre as concepções de corpo na filosofia da cristandade o dogma de que "o Cristianismo é um Platonismo para a povo" (NIETZSCHE, 1996, p. 8), pois, com efeito, tais concepções parecem centradas no laço que associa o corpo de carne, sangue e desejo à miséria existencial, conforme se nota em Agostinho (2008), em que tal associação se estabelece como identificação parcial entre corpo e corrupção pecaminosa: identidade esta em relação à qual o homem só encontra compensação na salvação divina. De fato, Blaise Pascal (1979), por sua vez, identifica o corpo à pequenez e à fragilidade do caniço: uma miséria que só encontraria compensação na grandeza do pensamento. No cristianismo de Maine de Biran (1766-1824), segundo a interpretação de Michel Henry (2012), a miséria do corpo humano reaparece associada ao fato de que ele é um objeto comum, entre os outros, embora tal miséria seja compensada pelo caráter mágico de todo objeto eivado de subjetividade. Assim, pensar a redenção agostiniana, o pensamento pascaliano e a magia biraniana seria percorrer os caminhos investigativos de uma filosofia da cristandade na qual o corpo aparece como realidade carente de uma transcendência compensadora. Mas será esse um caminho filosófico promissor?

Referência(s):
AGOSTINHO. A Cidade de Deus: contra os pagãos. Tradução Oscar Paes Leme. 8. ed. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008. 2 v., v. 2. Tradução de: De civitate Dei contra paganos.
COSTA, Israel Alexandria. O corpo na filosofia da cristandade. Arapiraca, AL: Grupo de Pesquisa Gnosiologia, Ética e Informação / CNPq / Ufal - Projeto Web Filosofia, 2021. Disponível em: https://www.gpgeinfo.org/p/cstcrpcrstndd.html. Acesso em: 16 abr. 2021.
HENRY, Michel. Filosofia e fenomenologia do corpo: ensaio sobre a ontologia biraniana. Tradução Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Realizações, 2012.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do Bem e do Mal: Prelúdio a uma filosofia do porvir. Tradução Paulo José de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
PASCAL, Blaise. Pensamentos. Tradução Sérgio Milliet. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.