-->

Dos objetos temáticos da filosofia da ciência

Um curso de estudos que tem como proposta fazer uma apresentação crítica das questões fundamentais do período de desenvolvimento e consolidação da filosofia da ciência, explicitando sua atividade, seu alcance e sua confiabilidade no processo da pesquisa científica, além de visualizar os limites extrínsecos e intrínsecos de sua práxis, precisa fixar, como ponto de partida, que a filosofia da ciência é uma atividade que, partindo da premissa de que ciência e sabedoria não são a mesma coisa, se propõe a filiar a ciência ao partido da sabedoria. Isso não significa, de modo algum, que o papel fundamental da filosofia da ciência seja o de preceituar regras de sabedoria junto à prática dos atos científicos, pois tal preceituação seria uma atividade essencialmente antifilosófica e tola, afinal a filosofia questiona os seus próprios pressupostos e propostas. Portanto, a primeira questão que a filosofia da ciência se põe é a da dúvida fundamental quanto a saber se sabedoria e ciência são, realmente, coisas diversas. É essa dúvida fundamental que não apenas põe a filosofia da ciência em movimento como, a partir dos meados do século XVIII, dá origem à própria disciplina da filosofia da ciência, destacadamente quando Rousseau denuncia a racionalidade científica de estar associada a um mal-estar da civilização caracterizado por um certo afastamento da sabedoria prática. Desde então, nossa disciplina filosófica tem se desenvolvido e se consolidado através de uma atividade de pesquisa e de crítica em torno da história da ciência, dos métodos científicos, da cultura científica e das lógicas da pesquisa científica, incluindo, em sua práxis investigativa, objetos temáticos como (a) a teoria da arché, desenvolvida pelos pré-socráticos e maturadas no período greco-clássico, com Sócrates, Platão e Aristóteles; (b) as teorias modernas do método científico, como as propostas por Bacon, Descartes e Kant; (c) as críticas filosóficas da cultura e do espírito científicos, presentes em Rousseau, Nietzsche, Adorno, Bachelard, Kuhn, Arendt e muitos outros, além; (d) das lógicas da pesquisa científica, como as formuladas por Popper, Pierce e Feyerabend.

Referência(s):
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução Roberto Raposo. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.
ARISTÓTELES. Metafísica. 2. ed. Tradução Giovanni Reale. Tradução Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2005. 2 v.
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. BACON, Francis. Novo Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza. Tradução José Aluysio Reis de Andrade. [S.l.]: CultVox, ca. 2020. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000047.pdf. Acesso em: 16 jul. 2020.
COSTA, Israel Alexandria. Dos objetos temáticos da filosofia da ciência. Arapiraca, AL: Grupo de Pesquisa Gnosiologia, Ética e Informação / CNPq / Ufal - Projeto Web Filosofia, 2021. Disponível em: https://www.gpgeinfo.org/p/cstcncobjts.html. Acesso em: 18 abr. 2021.
DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FEYERABEND, Paul Karl. Contra o método. Tradução Octanny S. da Mota; Leonidas Hegenberg. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução Manuela Pinto dos Santos; Alexandre Fradique Morujão. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Tradução Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia. Tradução Octanny Silveira da Motta e Leonidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix, 1972.
PLATÃO. Teeteto. Tradução Adriana Manoela Nogueira e Marcelo Boeri. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
POPPER, Karl Raimund. A Lógica da Pesquisa Científica. Tradução Leonidas Hesenberg; Octanny Silveira da Motta. São Paulo: Cultrix, 1972.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Tradução Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003-2006. 7 v.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes. Tradução Lourdes Santos Machado. São Paulo: Abril Cultural, 1973.